José
Saramago é aquele tipo de autor que não se pode deixar de ler pelo menos uma
vez na vida. Então, para quem ainda não teve uma experiência com esse escritor
ou pretende aumentar o repertório com mais obras do mesmo, Ensaio sobre a cegueira (1995) é parada obrigatória. José
Saramago é um escritor português que nasceu em 1922, publicou diversas obras
durante sua vida, principalmente sobre temáticas sociais, utilizando de muita
ironia para criticar questões políticas e religiosas. Não é possível sair de
nenhuma obra de Saramago sem se sentir obrigado a refletir sobre as mais
variadas questões humanas. Uma das principais marcas do escritor é a sua
linguagem, ele domina de tal modo sua língua que a subverte, seus parágrafos
apresentam tamanho de uma página inteira, com falas inseridas no meio deles sem
a indicação usual do início do diálogo, causando um estranhamento em quem se
aventura pela primeira vez nas obras do escritor.
Ensaio sobre a Cegueira
é uma das obras de maior destaque do autor, e com a qual ganhou o prêmio Nobel
de Literatura em 1998, além de uma adaptação para o cinema. Nesse romance,
Saramago (1995) nos coloca no meio de uma epidemia desconhecida, em que
diversas pessoas passam a ficar cegas sem nenhuma explicação, e não é uma
cegueira comum, é uma espécie de cegueira branca. Como essa contaminação passa
a se espalhar pela cidade incontrolavelmente, na medida em que as pessoas ficam
cegas, vão sendo obrigadas a se isolarem em um prédio que o governo determina
para uma espécie de quarentena. Os personagens de Saramago (1995) não possuem
nomes próprios, são indicados por suas profissões ou características
individuais, temos ‘o médico’, a ‘mulher do médico’, a ‘rapariga dos óculos
escuros’ e assim por diante. As primeiras pessoas cegas que são colocadas em
quarentena são as que, em um primeiro momento, se encontraram no consultório de
um médico oftalmologista, onde tiveram contato direto ou indireto com o
primeiro cego. A mulher do médico, mesmo tendo contato com ele, um dos primeiros
infectados, não ficou cega, mas para poder acompanhar o marido no isolamento finge
que foi infectada e é levada junto com ele, mantendo segredo sobre essa
condição. Sendo a única a enxergar nesse ambiente, acompanhamos com essa
personagem os prós e os contra dessa ‘vantagem’ que ela possui.
Como
o medo de contaminação é muito grande, os cegos são isolados sem contar com
nenhum suporte de pessoas que enxergam, precisando assim, reaprender a fazer
todas as coisas e a se locomoverem, agora como cegos. Com suas cenas realistas,
Saramago (1995) nos faz refletir sobre o comportamento do ser humano em
situações extremas e nos perguntamos a todo o momento: ‘Eu faria diferente?’
O
prédio em que se encontram os contaminados é vigiado por soldados armados e a entrega
da comida é feita pela porta, onde os próprios cegos são encarregados de pegar,
já que há um medo muito grande, dos próprios soldados, de se contaminarem. A
princípio, os cegos em quarentena conseguem manter certa organização com a
ajuda da mulher do médico que ainda enxerga (mesmo eles não sabendo de sua
condição). Entretanto, um grupo de cegos de outra camarata passa a pegar toda a
comida e só disponibilizá-la sob a condição de receber algo em troca.
Primeiramente são os objetos de valor, que logo acabam, depois, o pagamento que
eles exigem são as próprias mulheres dos homens das outras camaratas. Muitos conflitos surgirão e decisões deverão
ser tomadas, principalmente com a epidemia se espalhando até mesmo dentro do governo
e no restante da cidade. O caos será instalado, tanto dentro do prédio em
quarentena, quanto na cidade que se torna uma cidade de cegos. Nessa obra,
Saramago consegue explorar a temática sobre o que as pessoas são capazes de
fazer por sua própria sobrevivência.
Não
pretendo iludir você leitor, de que é uma leitura leve, e não falo somente da
adaptação inicial que é preciso para compreender a escrita revolucionária de
Saramago, mas porque nessa obra, ele apresenta situações de maneira tão
realista, que você vai precisar de algumas pausas para dar uma respirada.
Garanto que não vai sair o mesmo desta leitura, e por mais que tenha odiado a
obra, vai se pegar refletindo a todo o momento sobre as situações extremas que
o autor propõe. Ensaio sobre a cegueira
é uma alegoria sobre a nossa própria condição de cegueira: “O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São
palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o
medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego,
respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.” (trecho de Ensaio sobre a
cegueira).
Infelizmente, tive contato apenas com a adaptação cinematográfica de 2008, e essa por si só já é uma obra prima. Imagino que o livro seja ainda melhor. Entre outras obras de Saramago, também ressalto Memorial do Convento, mais um exemplo da escrita peculiar do autor que ainda carece de uma adaptação que faça jus à obra.
ResponderExcluirOlá Paul! Agradeço o comentário, Memorial do Convento é realmente uma obra muito boa de Saramago. Aventure-se no livro da resenha, muitos não sabem mas existe até uma continuação dele 'Ensaio sobre a Lucidez'. Os finais de Saramago são um espetáculo!
ExcluirIsabelle, que resenha incrível! Confesso que ainda não li ''Ensaio sobre a cegueira'', mas me vi muito curiosa diante da sua descrição da escrita de José Saramago nesse livro. Adoro desafios e leituras que nos colocam fora de órbita. Obrigada por compartilhar sua resenha conosco!
ResponderExcluirOi Maria Clara !! Fico feliz que tenha gostado. Com Saramago, o desafio é garantido. Espero que tenha oportunidade de ler. Obrigada pelo feedback!
ExcluirÓtima resenha, Isabelle! Ainda não li e nem assisti a adaptação cinematográfica da obra, mas a partir da sua resenha tive muita curiosidade em vê-lá.
ResponderExcluirObrigada João Pedro!! Agradeço muito o feedback, aventure-se em Saramago, tanto o livro quanto o filme são maravilhosos, garanto que não vai se arrepender!
ExcluirAinda não li esse livro,porém sempre tive vontade,e a sua resenha me fez ter mais vontade de ler essa obra.Ensaio sobre a cegueira é aquele tipo de livro que só pelo plot inicial você já sabe que vai ser bom.E pela sua resenha,percebo que deve ser ainda melhor do que eu havia imaginado.Parabéns.
ResponderExcluirOlá Carlos!!Obrigada pelo feedback! Fico feliz em ter contribuído para aumentar sua vontade em ler esse livro. Saramago sempre instiga muito a gente, espero muito que tenha a oportunidade de ler a obra. Boa leitura!!
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ResponderExcluirOlá Isabelle! Infelizmente nunca li o livro Ensaio sobre a cegueira, mas já assisti ao filme e me lembro de ficar dias refletindo sobre. Sua resenha instigou minha curiosidade, estou ansiosa para ler este livro. Além disso, seu texto fico muito bem estruturado e claro aos leitores. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada Luiza!!! Fico feliz que tenha gostado da resenha! O filme é mesmo uma obra prima, me lembro de uma entrevista que fala sobre Saramago ter gostado muito da adaptação, pois antes ele era receoso quanto a isso, mas que o filme havia alcançado suas expectativas. Mas não deixe de se aventurar no livro, Saramago é único, boa leitura!
ExcluirSaramago é famoso por sempre fazer provocações,né?!Esse livro está na minha listinha já faz um tempo, vamos ver se esse ano sai haha
ResponderExcluirSiiim!! Olá Larissa, agradeço o feedback!! Garanto que não será uma leitura jogada fora, me atrevo ainda a prever que Saramago entrará pras suas listas todo o ano (mas sou bem suspeita para tal afirmação rsrs)!! Boa leitura!
ExcluirSua descrição fascinante me fez poder sentir o gosto desse livro. Confesso que ele foi um daqueles livros que a gente deixa para ler depois, mas sua resenha me deixou com a vontade de poder conhecer a fundo essa história. Meus sinceros agradecimentos por essa resenha. Parabéns!!!
ResponderExcluirOlá Thaynara! Eu que agradeço pelo feedback e pelo 'fascinante'. Seu comentário fez eu gostar ainda mais da minha resenha, fiquei até metida agora rsrs. Já coloca 'Ensaio sobre a cegueira' na listinha de leitura desse ano que você não vai se arrepender. Boa leitura!
ExcluirEu assisti uma montagem teatral sobre este livro, confesso que não gostei muito da peça, mas, sua resenha detalha acontecimentos que não vi no teatro, por ser outra linguagem claro, porém, atiçou a curiosidade pelo livro. Ótima resenha Isabelle.
ResponderExcluirOlá Denise, muito obrigada pelo feedback!! Fico feliz em ter atiçado sua curiosidade, ler Saramago é uma experiência única, espero que você possa ter a oportunidade de ler essa obra!!
ExcluirOi Isabelle, bom dia!
ResponderExcluirRealmente, me fez querer ler. Logo eu que não tenho o hábito da leitura, fiquei curioso sobre o livro (pense uma coisa difícil). Parabéns, ótima resenha!
Obrigada pelo feedback!
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