A filosofia cotidiana
Um dia desses sentada na ultima fileira de
bancos do ônibus, meu lugar de sempre pessoa de hábitos como sou, entre um
cochilo e outro entreouvi o seguinte diálogo de duas mulheres que estavam de pé
próximas a porta, doravante denominadas de PD1 (passageira desconhecida nº1) e
PD2 (passageira desconhecida nº2).
-Pois
é, isso faz mesmo a gente pensar... – continuou PD1.
-Pois
é menina, como se diz por aí: pra morrer basta tá vivo! – disse PD2 com ares de razão.
-É
mesmo menina, outro dia um colega meu se suicidou, nem fui lá no velório,
prefiro lembrar de como era vivo.
-Como
é estranho né?! Parece que tem tanta gente morrendo, o tempo todo a gente fica
sabendo. A gente tá sujeito né, tem que aceitar.
-Verdade
qualquer hora a gente pode ir também... Mas o que tem de gente nascendo também,
não é brincadeira! Só no meu serviço têm três mulheres grávidas.
-É
verdade. E você vai ficar só com um menino mesmo? Quando vai ter o segundo?
-Ah,
acho que sim, o tanto que é difícil criar filho hoje em dia. No tempo da minha
vó não, ela teve 11 filhos, acho que tem mais de trinta netos!!!
-E
hoje em dia a gente custa cuidar de um né?! Também, com a violência, e o tanto
que as coisas andam caras?! Cuidar de filho gasta muito.
-Pois
é menina...
Alguns
segundos de silencio entre as duas.
-Olha
menina, esses dias eu tava procurando uma blusa igual aquela ali pra comprar! –
diz PD1 apontando com animação uma banquinha de camelô pela janela do ônibus.
-Nossa
é linda né?! Pior que eu só vejo quando não vou comprar, quando venho nunca
acho! – diz PD2.
Após
essa dose de filosofia diária, retomei meus cochilos, afinal, é longo o caminho
do ônibus.
Muito interessante ler uma situação tão corriqueira em um texto tão bem escrito. Parabéns!!! Imaginei logo um livro com essas "Filosofias Diárias".
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