terça-feira, 30 de junho de 2015

A filosofia cotidiana

                Um dia desses sentada na ultima fileira de bancos do ônibus, meu lugar de sempre pessoa de hábitos como sou, entre um cochilo e outro entreouvi o seguinte diálogo de duas mulheres que estavam de pé próximas a porta, doravante denominadas de PD1 (passageira desconhecida nº1) e PD2 (passageira desconhecida nº2).
                -Pois é, isso faz mesmo a gente pensar... – continuou PD1.
                -Pois é menina, como se diz por aí: pra morrer basta tá vivo! – disse PD2 com ares de razão.
                -É mesmo menina, outro dia um colega meu se suicidou, nem fui lá no velório, prefiro lembrar de como era vivo.
                -Como é estranho né?! Parece que tem tanta gente morrendo, o tempo todo a gente fica sabendo. A gente tá sujeito né, tem que aceitar.
                -Verdade qualquer hora a gente pode ir também... Mas o que tem de gente nascendo também, não é brincadeira! Só no meu serviço têm três mulheres grávidas.
                -É verdade. E você vai ficar só com um menino mesmo? Quando vai ter o segundo?
                -Ah, acho que sim, o tanto que é difícil criar filho hoje em dia. No tempo da minha vó não, ela teve 11 filhos, acho que tem mais de trinta netos!!!
                -E hoje em dia a gente custa cuidar de um né?! Também, com a violência, e o tanto que as coisas andam caras?! Cuidar de filho gasta muito.
                -Pois é menina...
                Alguns segundos de silencio entre as duas.
                -Olha menina, esses dias eu tava procurando uma blusa igual aquela ali pra comprar! – diz PD1 apontando com animação uma banquinha de camelô pela janela do ônibus.
                -Nossa é linda né?! Pior que eu só vejo quando não vou comprar, quando venho nunca acho! – diz PD2.

                Após essa dose de filosofia diária, retomei meus cochilos, afinal, é longo o caminho do ônibus.


Um comentário:

  1. Muito interessante ler uma situação tão corriqueira em um texto tão bem escrito. Parabéns!!! Imaginei logo um livro com essas "Filosofias Diárias".

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.