Banalidades do cotidiano
- Eu tenho certeza que o nome dela
era Antonieta, a minha tia trabalhava na casa dela e a conhecia. Que choque. – Uma mulher em pé no ônibus retrucou,
concedendo espaço para um homem grande passar e olhando para a adolescente que
havia conseguido sentar em um dos bancos vermelhos.
- Mas não era Carmélia? Talvez
seja apena uma garota parecida, não? – A outra perguntou curiosamente, com uma
dessas certezas absolutas que se tem de coisas que não são certas.
- Bem, não importa muito o nome
dela depois desse acidente... – a mulher deu de ombros, fazendo uma breve
pausa. - Eu já te mostrei o vídeo?
- Você filmou?
- Não fui eu, foi o meu colega de
trabalho que estava no parque na hora. -
A mulher desdobrou-se para pegar o grande celular no bolso do jeans,
tocando a tela repetidas vezes até entregar a adolescente.
- Então... Deixe-me ver se eu
entendi direito, o homem matou a esposa no parque e depois se matou? –
Pronunciou as palavras lentamente enquanto as imagens na tela surgiam com algumas
paletas de vermelho.
- Sim, deixaram dois garotinhos
pequenos. – Sorriu de modo triste para a mais jovem. - A violência anda tão
banal esses tempos... – murmurou de modo baixo em meio ao caos do trânsito, os
olhos hipnotizados pelas imagens sendo reproduzidas no celular.
~ Fim.
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