quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

 

Resenha do filme Tudo Bem no Natal que Vem

O filme Tudo Bem no Natal que Vem (2020) segue uma narrativa já conhecida, até os que assistem filmes corriqueiramente já devem ter se esbarrado por este tipo, que é a prisão do tempo, já vimos esta temática, por exemplo, em a Morte te dá Parabéns (2017), uma jovem acorda no dia do seu aniversário e morre no fim da noite, porém, após sua morte, ela acorda no mesmo dia do seu aniversário e recomeça os mesmos acontecimentos até acabar com sua morte novamente e o ciclo se mantem até o fim da trama.

O filme é a estreia do cinema nacional na Netflix com a temática natalina. Jorge, o protagonista do longa, interpretado por Leandro Hassum, é um pai de família que odeia a tradição natalina e tudo relacionado aos rituais dessa data. Em uma dessas celebrações de natal Jorge sofre um acidente em sua casa e só acorda 1 ano depois, no natal seguinte. O filme se diferencia dos demais pelo fato de o protagonista acordar em uma data diferente após cada fim de noite. A ideia de que o natal é magico é inserida com a mudança de personalidade do protagonista, o Jorge que conhecemos lá no início do filme, sentimental e volúvel aos problemas do cotidiano, só aparece no natal, dando lugar a um Jorge calculista que fica no controle o restante dos dias. O filme consegue nos mostrar o quanto coisas que chateiam muitos, a piada do pavê, as pequenas desavenças familiares, o "espertinho" da família que sempre pede dinheiro emprestado, são coisas que fazem parte da maioria das famílias atuais. Com o passar da trama o humor pastelão vai dando lugar a um clima de tristeza, e então fica claro para Jorge que sua idealização de uma vida boa não bate com a realidade.

O longa entrega o que se espera de uma produção natalina, arranca boas risadas ao mesmo tempo que traz uma reflexão, não é uma produção complexa, contudo, muda muita coisa sem deixar diferente do que há nas produções cinemáticas, o que nos deixa com uma pulga atrás da orelha, pois não sabemos o que pode acontecer no filme, diferente do citado no primeiro parágrafo no qual se espera uma quebra do loop e a continuidade da vida do personagem. Vale a pensa assistir, com alguém especial ou sozinho mesmo, com certeza algo te marcará.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

RESENHA: O Visconde Que Me Amava

A série literária  de romance de época “Os Bridgertons” da escritora americana Julia Quinn, retrata uma família muito importante da alta sociedade inglesa do século XIX, a família Bridgertons. Aqui conhecemos a Violet,uma mulher forte e viúva que depois da morte do marido teve que cuidar dos seus filhos sozinha e tem o sonho de ver todos eles casados. 

“Os Bridgertons são de longe a família mais fértil da alta sociedade”. A viscondessa Violet e o falecido visconde apenas tiveram oito filhos e estes são nomeados em ordem alfabética. Sendo assim, temos: Anthony, Benedict, Colin, Daphne, Eloise, Francesca, Gregory e Hyacinth.  Os menores não tiveram a oportunidade de conhecer o pai, pois o menino tinha dois anos e a menina ainda estava na barriga da mãe quando a tragédia aconteceu.



No total temos nove livros, os oito primeiros retratam a vida de cada irmão Bridgerton e o último livro são capítulos extras e o ponto de vista da matriarca da família. É muito interessante ver o crescimento e o amadurecimento de cada um desses irmãos, por exemplo, Gregory e Hyacinth, conhecemos eles crianças e no último livro os dois têm respectivamente 26 e 24 anos. 


No total temos nove livros, os oito primeiros retratam a vida de cada irmão Bridgerton e o último livro são capítulos extras e o ponto de vista da matriarca da família. É muito interessante ver o crescimento e o amadurecimento de cada um desses irmãos, por exemplo, Gregory e Hyacinth, conhecemos eles crianças e no último livro os dois têm respectivamente 26 e 24 anos. 

Em “O visconde que me amava” temos a história do Anthony, irmão mais velho. Quando o pai morreu, já tinha seus 18 anos, então logo em seguida precisou ter muitas responsabilidades, pois era o “chefe da família”, o novo visconde,  apenas no papel porque quem continuava sendo a que tomava as decisões finais era sua mãe. Na temporada de 1814, com seus 30 anos, decidiu que precisava se casar e  que Edwina Sheffield seria a  melhor opção, porém para este casamento acontecer terá que convencer Kate, já que em um dos bailes da temporada Edwina disse que só se casaria com o homem que conseguisse a benção de sua irmã mais velha. No caso isso seria mais difícil do que pensava Anthony, pois Kate não tinha uma boa estima dele, já que acompanhava a coluna de fofoca de Lady Whistledown. Dessa forma, o visconde precisava passar muito tempo com Kate, porque tentava convencê-la de que ele tinha um bom caráter e que não iria fazer mal para a sua irmã e, depois de várias situações, ela percebe que apesar de sua fama ele era uma boa pessoa.


Em “O visconde que me amava” temos a história do Anthony, irmão mais velho. Quando o pai morreu, já tinha seus 18 anos, então logo em seguida precisou ter muitas responsabilidades, pois era o “chefe da família”, o novo visconde,  apenas no papel porque quem continuava sendo a que tomava as decisões finais era sua mãe. Na temporada de 1814, com seus 30 anos, decidiu que precisava se casar e  que Edwina Sheffield seria a  melhor opção, porém para este casamento acontecer terá que convencer Kate, já que em um dos bailes da temporada Edwina disse que só se casaria com o homem que conseguisse a benção de sua irmã mais velha. No caso isso seria mais difícil do que pensava Anthony, pois Kate não tinha uma boa estima dele, já que acompanhava a coluna de fofoca de Lady Whistledown. Dessa forma, o visconde precisava passar muito tempo com Kate, porque tentava convencê-la de que ele tinha um bom caráter e que não iria fazer mal para a sua irmã e, depois de várias situações, ela percebe que apesar de sua fama ele era uma boa pessoa.

Esse livro é um romance clichê, estilo cão e gato que você começa o livro com uma certa ideia de como vai ser o final. É um livro muito leve, com uma leitura fluida, ótimo pra quem precisa se desestressar e quer rir um pouco. Além disso, é muito especial como a autora consegue em todos os livros dessa série colocar como o plano de fundo a importância da família, a união, o amor e deixar a gente matar a saudade dos outros irmãos Bridgertons que vivem se intrometendo nas histórias alheias (amo isso!!!). 



  Um outro detalhe importante, é que foi lançado no final de 2020 uma série da netflix chamada “Bridgertons” baseada nessa querida família, produzida pela Shonda Rhimes, a mesma produtora Greys anatomy, ou seja, teremos muito drama. Essa primeira temporada será sobre a Daphne, porém vemos  um pouco dos  irmãos Bridgertons e de Violet.







 

 

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

RESENHA – SÉRIE: O CONTO DA AIA

 




     The Handmaid´s Tale (O conto da Aia, em português) – Transmissão original 26 de abril de 2014 - é uma série baseada no livro da escritora Margaret Atwood (1985). A série é produzida pela MGM e retratada pelo canal de streaming Hulu. A série foi merecedora de diversos prêmios dentre esses dois globos de ouro por melhor série de Drama e para a atriz protagonista Melhor atriz de série de drama.

     A série é um tipo de distopia sobre um governo chamado Gilead. Por conta de problemas climáticos a maioria das mulheres no planeta se tornam inférteis diminuindo a taxa de natalidade a ameaçando o futuro da humanidade. Por conta disso grupos religiosos conservadores acabam conseguindo mais e mais adeptos e acabam dando um golpe de Estado na Casa Branca, tomando assim o poder. Esses poderosos contam com arsenais de guerra e fecham as fronteiras dos EUA. Após esse novo governo tomar posse automaticamente os direitos das mulheres são invalidados, tudo que pertence às mulheres é transferido para um parente masculino mais próximo. Ao fechar esse cerco as mulheres ficam de mãos atadas sendo levadas a centros de treinamentos que parecem com campos de concentração feminino. Mulheres LGBT´S e membros de movimentos de resistência são enviadas a campos de trabalho forçado ou até mesmo mortas. Já mulheres consideradas inférteis são chamadas de “Marthas” e enviadas para casas de comandantes (que são homens que desempenham funções de governadores e ministros) e mulheres férteis são enviadas para centros de treinamento onde tem sua mente manipulada para se tornarem Aias. Essas Aias são enviadas a casa de vários comandantes a fim de dar filhos à casa, e então, quando seu objetivo foi alcançado, elas passam a ser de outro comandante.



      A série retrata extraordinariamente que mudanças impensáveis podem acontecer pouco a pouco. Em um certo episódio a protagonista até menciona que essa transposição é como um sapo em uma panela onde a água vai esquentando gradativamente, porém com o costume ele não nota que está perdendo a força até perceber que está completamente sem vigor para pular da panela. Por mais fantasiosa que seja essa distopia ela é mais presente do que imaginamos. Escondida em discursos de ódio e na inferiorização da mulher esse comportamento se dissemina dentro de pessoas que nem imaginamos pois o mal não tem cara. Mais do que intrigante, sensacional e estimulante essa série é necessária.


Resenha crítica: O Gambito da Rainha

XADREZ EM VIDA

 

 

 

  Com um título pouco comum para quem não se envolve com o xadrez, acaba que chama a atenção pelo conteúdo. Além disso, é uma minissérie de sete episódios cheia de assuntos complexos e superações que tende a me fazer cobrar um deslumbre. Por tanto ao me deparar com tal produção fui pega em total fascínio. A real emoção e comoção passada na trama é de trazer até mesmo assuntos antigos aos mais pensados após a série.

  Adaptada por Scott Frank, do romance com o mesmo título escrito por Walter Tevis, em 1983, O GAMBITO DA RAINHA atrai por seus quesitos. Com um elenco de peso, interpretações impecáveis e uma magnifica linguagem visual. É claro que há “tropeços” ao longo caminho, no entanto ainda sim não diminui nenhum valor.

  A série conta a história de Elizabeth, chamada por Beth. Que por ventura foi interpretado Anya Taylor-Joy, atriz de Fragmentado e Pecky Blinders que deu vida a uma personagem com traumas e procura asi mesma em toda sua caminhada.

  Beth Harmon é uma criança que precisa morar em um orfanato após perder sua mãe em um acidente de carro e, chegando lá descobre uma vida completamente diferente e se choca com as regras impostas. Consequentemente ela usa calmantes que é fornecido para as crianças serem dóceis ( que era dado para as crianças em orfanatos no ano de 1967) que, acaba criando um vício em forma de escape. Sendo assim, se chocando com esse mundo onde tudo tinha perdido a graça, a menina encontra o xadrez que por sua vez, vê que tem um bom desempenho no jogo. E sim, ás vezes parece que ela está
em uma brincadeira simples mas foi onde a personagem realmente se encontra, isso se torna a Parte fundamental da trama. Mesmo o jogo exigindo muito da inteligência, mente e audácia a garota vai crescendo, estudando e praticando muito, mostrando que não é só talento. Com isso as partidas de xadrez são mostradas e amplificadas de uma forma tão perfeita que não tive como dormir quando elas aconteciam.

Com isso, o movimento do xadrez fez com que Beth se movimentasse com ele. Sr. Shaibel interpretado por Bil Camp, é o zelador do orfanato que foi o responsável por ensinar Beth a jogar xadrez mesmo as escondidas no local. Mesmo sendo um personagem silencioso, demonstra total química com a personagem O GAMBITO DA RAINHA, uma minissérie estreada em outubro pela Netflix é baseada em xadrez. Idealizada como apenas início, meio e fim teve seu formato dessa forma sem prorrogação para uma possível segunda temporada. O que lhe caiu bem, pois teve um ótimo desempenho e desfecho. ajudando-a evoluir, o que é muito prazeroso de assistir. O personagem desempenha um papel importante na vida de Beth que acaba preenchendo uma lacuna de sua vida perdida no acidente e encontrada agora com ele no jogo.

  O segundo episódio mostra sua vida adulta sem o Sr. Shaibel, mas com tudo que aprendeu com ele. A personagem foi adotada por uma família que tentava se enquadrar socialmente e Beth começa a acreditar que pode fazer do xadrez seu futuro. Nesse momento a personagem pensa achar que está encontrando seu caminho e durante isso ela se depara com a história de sua mãe adotiva Alma Wheatllew, interpretada por Marielle Hellen. A mãe adotiva de Beth e uma dona de casa feita para ser submissa ao marido inadimplente, egoísta e inconstante em um período em que a mulher era extremamente rebaixada pela sociedade e aos olhos dele.

  A conexão que as personagens encontram eleva e desenvolve o ápice de O GAMBITO DA RAINHA. E mesmo mostrando a história de Alma, o foco continua em Beth que evoluí e encontra o crescimento e crises das duas. É nisso que a trama começa a se concentrar, em seu crescimento no xadrez enfrentando seus desafios pessoais também. Elas embarcam junto em viagens pelo país em torneios de xadrez, ousando quebrar as paredes impostas pela sociedade.

  Durante as partidas de xadrez é possível se conectar com as características da personagem através de seus riscos. Enquanto o tempo passa, ela se torna mais sábia, mostrando também o desempenho da atriz Taylor-Joy que se encontra em metamorfose pela personagem. A atriz prende atenção do espectador entre os paradoxos de forma sútil.

  É claro que mergulhando no mundo em que a personagem se encontra, além de dar tudo de si ela tenta se anestesiar com vícios que ficam cada vez maiores. E sendo uma mulher no mundo masculino, o roteiro mostra o grande desempenho das mulheres como também continua o xadrez durante a guerra-fria enfrentando somente homens.

  Inevitavelmente existem erros na trama, a qual estrutura do roteiro pode cansar os espectadores. No entanto mesmo o xadrez sendo tão repetitivo, as partidas não são repetitivas e todas elas cabem no crescimento dos personagens e do roteiro.

  Com um final que redonda a essa minissérie com o fato de Beth ter que se reinventar após se envolver em vícios com jogos e lidar com perdas materiais e sentimentais o conteúdo fica melhor aos nossos interesses. Tanto que em menos de um mês tal minissérie se torna a mais assistida da Netflix após a estreia. E no fim seus ensinamentos faz o público refletir sobre a importância de alguns problemas e como é lidado na sociedade em si. O GAMBITO DA RAINHA deixa um impacto vidas incríveis e emocionantes, que deixam a série necessária. Poderemos ver os demais resultados desse sucesso ao longo do tempo, mas é sem dúvidas a série que você precisa assistir.

 

 


 

 

Universidade federal de Goiás, outubro de 2020

Autoria: Thaynara Neres dos Reis, Disciplina: Leitura e produção

Professor(a): Margareth Lobato

Gênero: Resenha

Thaynaraneres578@gmail.com


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Resenha Crítica : Bom dia, Verônica.

 

Bom dia, Verônica

 

  Genialmente, “Bom dia, Verônica” trata do despertar de mulheres. Despertar, por sua vez, é “fazer sair do estado de torpor ou de inércia; fazer readquirir ou readquirir força ou atividade; espertar.”

  A série inspirada no Livro, de mesmo nome, de Ilana Casoy e Raphael Montes aborda o tema da violência contra a mulher e seus contornos.

 Verônica – não por acaso uma escrivã em uma delegacia de homicídios – ao presenciar um suicídio de uma mulher visivelmente consternada, decide investigar por si mesma o que a levou a cometer tal ato. Descobre então que se trata de um caso de misoginia, em que um homem seduz mulheres por um site de relacionamentos, as droga com uma espécie de “boa noite, Cinderela” que deixa uma ferida nos lábios e, quando acordam se dão conta de que foram furtadas e enganadas.

  Ao tornar o caso público, Verônica, contraria seus superiores que pretendiam “abafá-lo” para manter o “status quo”. Nesse momento, fica evidente como a sociedade trata as mulheres: como seres humanos de segunda categoria. Quando suas vidas não merecem atenção, suas mortes não causam tanta comoção, suas historias não são contadas e nem ouvidas.

  Trazendo à tona traumas do passado de Verônica, o responsável pela delegacia intenta desestabilizá-la utilizando-se de uma forma de abuso psicológico bastante usual: o “gaslighting”. Essa atitude desonesta e criminosa faz com que mulheres – por mais convictas que sejam – percam a confiança em si mesmas e duvidem de suas memórias e de fatos vivenciados. Verônica ainda que seja uma mulher desperta e tenaz – que por vezes será vista como heroína – é uma mulher que está se fragilizando à medida que é obrigada a conciliar sua vida pessoal e seu trabalho. Apesar de suas atitudes serem louváveis, ninguém deveria sair “para a guerra” todos os dias.

  No entanto, a escrivã segue com a investigação e por meio de sua fala à imprensa, outras duas mulheres decidem entrar em contato para realizar uma denúncia. Muitos são os questionamentos à respeito do porquê grande parte das mulheres vítimas de violência não denunciam, além da falta de informação sobre como proceder, há outros motivos que fazem essas mulheres desistirem da denúncia. O interrogatório de Tânia – uma das vítimas que decidiu denunciar – exemplifica bem. Percebe-se nessa cena as claras tentativas de culpabilizar e de descredibilizar a vítima, utilizando -se de perguntas que não convinham ser feitas. O fato chocante é ver que tal constrangimento está sendo provocado por uma delegada; uma mulher. Uma mulher que violenta suas iguais, reproduzindo o machismo que lhe foi internalizado.

  Vemos, então, a importância da escuta cuidadosa e empática, em que há respeito e acolhimento às dores alheias, escuta que não dê espaço para estigmatizações que gerem ainda mais sofrimento.

  A série também retrata, com maestria, Janete. Uma mulher que vive um relacionamento abusivo, cujo o agressor é um oficial da polícia e um serial killer . Ela, que é obrigada a participar das atrocidades cometidas por seu marido, em um determinado momento deve colocar em sua cabeça uma caixa que permite ver apenas parte do que acontece por um pequeno buraco. Algo bastante simbólico é o fato da caixa não ter fechadura ou cadeado, ela pode ser aberta a qualquer momento.

  As falas enfáticas de seu marido, “ EU sou sua família”, “Você é a mulher da MINHA vida” e “Você ainda vai ME dar um filho”, ainda que disfarçadas de cuidado, são carregadas de informações que indicam que se trata de um relacionamento abusivo.

  Assim como nessa primeira cena, o abusador não se apresenta logo de início como um monstro, mas qualquer mulher que vivenciou violência doméstica ou já esteve em um relacionamento abusivo consegue identificar que há ali uma disfunção, ainda que não consiga nomear. Em muitas cenas podemos perceber o quanto a violência simbólica, psicológica e patrimonial são tão cruéis quanto a violência física, ela destrói brutalmente cada pedacinho de autoestima e confiança, corrói a ponto de alterar a percepção que se tem sobre si.

  Vemos em Janete, toda dor e medo comprimidos, cada centímetro. A anulação de si mesma a ponto de não ser reconhecida, de não ter mais identidade, tantas concessões não lhe sobrou mais nada. Uma “passarinha” - como sadicamente é chamada por seu agressor – que não sabe mais como usar suas asas, e as penas pesam.

  Ainda assim ela abre a caixa. E, a cada vez que a caixa é aberta, ela consegue enxergar melhor o que de fato está acontecendo. Consegue ver que não era nela que havia algo de errado e, desperta, tenta alçar voo.

  Ao ouvir casos como esses, muitos podem ter o ímpeto de culpar e julgar de diversas maneiras as mulheres envolvidas, mas elas definitivamente não são as culpadas por entrarem nesse tipo de relacionamento. A forma como meninas são socializadas as levam à esse tipo de relação, pois desde o nascimento vai sendo internalizada a ideia de que precisam de aprovação masculina, precisam ser escolhidas, precisam de um homem para que se sintam realizadas e sejam validadas por essa sociedade falocêntrica. Ao mesmo tempo há um esforço enorme para minar a autoestima dessas meninas para que nunca se sintam suficientes e merecedoras. Assim, a mulher já entra na relação vulnerável.

  E como sair ? Como denunciar em uma sociedade em que homens sempre tem primazia? Assim como foi com Janete, a sociedade continua levando mulheres – sem nenhum ressentimento – à fogueira.

Assim, a série desempenha um papel muito importante ao trazer esse tema tão necessário, de forma tão sensível e crua, à baila.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

À Procura da Felicidade (Filme)

Resenha de Filme

 

À Procura da Felicidade 

(The Pursuit of Happyness, EUA, 2007), dirigido por Gabriele Muccino. 

Elenco: Will Smith, Jaden Smith, Thandie Newton e Brian Howe.

À Procura da Felicidade | Wiki Dublagem | Fandom

 

        O filme é baseado em uma história real da vida de Chris Gardner. Chris Gardner é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros, trabalha duro e não recebe o suficiente para pagar as dívidas no fim do mês, e apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda, sua esposa, vai embora deixando seu filho, o pequeno Christopher, de apenas cinco anos, para Chris cuidar sozinho. Chris agora é pai solteiro e precisa cuidar de Christopher. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para conseguir um emprego melhor e consegue uma vaga de estagiário em uma importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Ele perde a casa e tudo o que tem e passa por grandes apertos, dormindo em bancos de parque, abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um abrigo à noite. Quando o estágio termina, Chris é chamado para ser efetivado e abre mais tarde sua própria empresa de consultoria, se tornando uma referência no ramo e alcançando extremo sucesso.

        A atuação impecável de Will Smith no papel de um homem e, principalmente, de um homem na condição de pai, revela neste filme que, as circunstâncias ruins forjam o homem forte. A resiliência foi maior do que qualquer adversidade, ao invés de abraçar o desespero, esse pai prova que, diante de uma crise, ele suporta, aprende e torna-se um herói. É uma história fecunda de honestidade e sinceridade, e Chris, se mantém fiel ao seu único objetivo: conseguir dar um futuro digno à seu filho. Observando sua conduta, somos levados a refletir sobre nossa versatilidade, criatividade, determinação e bom humor na luta em busca de um objetivo, nosso comportamento e autoconfiança diante das dificuldades na luta pela sobrevivência. Incontestavelmente, é um filme que nos prende do começo ao fim e nos concebe uma lição comovente.

 

A magnitude de Evelyn Hugo


RESENHA: OS SETE MARIDOS DE EVELYN HUGO


Os Sete Maridos de Evelyn Hugo foi o quinto livro publicado pela autora romancista Taylor Jenkins Reid, em 2017, sob o titulo original de The Seven Husbands of Evelyn Hugo. No Brasil, foi lançado em 2019, através de uma edição especial e exclusiva produzida pela Tag – Experiências Literárias e em uma parceria com a Editora Paralela, o qual foi lançando, posteriormente, em sua versão para as livrarias de todo o país.

O romance fictício escrito por Reid (2017) dá a vida a personagem central da história, Evelyn Hugo, um dos maiores símbolos de Hollywood desde a década de 50, um dos grandes retratos de referência feminina em cinema no mundo. A personificação de Hugo é então narrada por Monique Grant, uma jornalista, desconhecida e desprovida de experiência, que recebe a maior e única oportunidade de sua carreira: escrever a biografia de Evelyn Hugo, contada pela própria atriz, agora com oitenta anos de idade e uma vida que fora inteiramente cercada pelos holofotes. Grant, escolhida especialmente por Evelyn para a autoria de sua biografia, se sente a beira de um misto de emoções, que vão de felicidade e honra, a curiosidade e suspeita, afinal, o que tem a dizer a mulher que por tantos anos subiu ao palco das grandes especulações e rumores, a mulher que fora casada sete vezes e que foi observada diante de tudo e de todos? A partir da ênfase no questionamento de quem fora e como se tornara uma estrela mundial, Evelyn Hugo ainda tem muito a dizer.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, representa, para mim, a maior e melhor leitura do ano. Particularmente, o livro chegou em minhas mãos em abril de 2020, cerca de um ano após o lançamento da obra no Brasil, e, apesar de ter passado os olhos por alguns comentários positivos a respeito, eu iniciei a leitura sem grandes expectativas e com zero conhecimento prévio do que iria se tratar a história, nada além de uma breve especulação diante do título.

A narração presente no livro é fácil e fluída, o que, por si só, já torna a experiencia de ler agradável, mas além disso, logo nas primeiras 30 páginas, o enredo é capaz de prender a atenção do leitor e convence-lo a não soltar o livro. Quanto mais se avança na leitura, mais envolvidos ficamos com o que se passa na história. Temos a trajetória de ascensão de Evelyn Hugo descrita de forma tão pessoal e cativante que é, até mesmo, possível acreditar que a personagem é real e faz parte dos nossos ícones de celebridades. E diante do percurso vivido por Evelyn, sob a narração do seu próprio ponto de vista, conhecemos cada um dos sete maridos da grande atriz e nos rodeamos com a dúvida central de quem, de fato, foi o grande amor de sua vida.

A construção da figura principal da obra, Evelyn Hugo, foi tão marcante, que, ao ler o livro criamos um sentimento de vínculo com a estrela, e somos capazes de nos emocionar, rir, e querer defender a personagem, pois sentimos que vivemos todos os passos junto com ela. Ademais, Taylor Jenkins Reid (2017) foi capaz de habilitar em nossas mentes uma imagem explicita de Hugo, que logo se tornaria uma marca única da própria personagem os cabelos loiros, vestidos verdes e joias, sendo impossível reverter sua imagem e não relacionar tais elementos a ela. 

É, logo, com o grande caráter feminino, com o romance que se inicia sutilmente até o ponto que nos ressalta de forma inegável, que essa obra se lança como uma das obras mais significantes lidas por mim, ao passo que, além de me fazer passar noites a dentro imersa na leitura, se tornou marcante a ponto de ser citado durante meses e, quem sabe, anos, após a leitura. Os sete maridos de Evelyn Hugo, com toda a sua impactante trama, sua reviravolta de caminhos e emocionante jornada, é, de fato, que traz o fervor de amar um personagem como se este fizesse parte, não só de nossas realidades, como de nossas próprias histórias.

 

O conto " o gato preto", de Edgar Allan Poe, foi escrito em 1842 e faz parte do romantismo sombrio que tem por característica o grotesco, o sobrenatural e o demoníaco. Esse conto inspira o horror e o mistério a cada página e compõe a saga de contos extraordinários do autor, isto é, uma coletânea com os contos mais expressivos de Edgar Allan Poe.

Nada menos esperado do que uma história macabra e instigante nos é apresentada na narrativa da personagem que de um temperamento dócil e humano, principalmente, com os animais, vai com o passar das páginas se tornado cada vez mais próximo de um demônio sem sentimentos.

Inicialmente em "o gato preto", a personagem em sua infância tinha um caráter de uma bondade sem defeitos ao ficar adulto esse traço se mantém e se casa com uma mulher com as mesmas ações e amor para com os animais.  Eles tinham vários animais, mas entre eles o preferido da personagem principal era um gato enorme e inteiramente preto chamado Plutão. Ele e o gato tiveram um bom relacionamento por vários anos, entretanto com a sucessão desses anos seu caráter é modificado drasticamente por conta do álcool e acaba por negligenciar e maltratar seus animais e sua esposa. Apenas sua afeição maior, o gato, não sentia seus mais tratos, até uma noite que voltara bêbado acaba por ferir e retirar um olho de Plutão.

Com o passar dos dias um sentimento de ódio o persegue e o espírito da perversidade o domina e acaba por matar seu gato enforcado. Na noite em que cometera esse ato cruel sua casa pega fogo e dificilmente os habitantes de lá conseguem escapar, e no lugar dos escombros apenas uma parede se manteve de pé com a marca em fuligem de um gato com uma corda em seu pescoço.

Um sentimento de remorso o toma e o faz procurar um semelhante para ocupar o lugar do falecido animal.

Encontra um gato parecido em uma taverna e o adota. Mas em vez de um sentimento de carinho e afeição sente antipatia pelo animal que assim como o primeiro era caolho, entretanto acima disso sentia medo do gato por em seu peito possuir a marca de uma forca em seus pelos brancos.

Em um dia que acompanha sua esposa ao porão o animal quase o derruba e ele acaba por tentar matá-lo, todavia sua esposa se põe entre eles e acaba morta. O assassinato não pesa muito nos ombros do narrador que a empareda tranquilamente e procura após concluir o sepultamento o gato para enfim matá-lo, mas não o encontra. Com isso, dormiu tranquilamente pela primeira vez desde a chegada do animal na casa.

No quarto dia após o crime ter sido cometido os policias fizeram uma visita e encontram por culpa do narrador o corpo com o gato emparedado junto ao cadáver.

 

Essa narrativa é muito bem estruturada, seguindo uma linha do supersticioso com o psicológico, em que o próprio nome do gato: Plutão remete ao Deus dos mortos na mitologia romana. Além disso, há alusão a superstição de que todo gato preto é uma bruxa disfarçada. Os atos cometidos pelo narrador levam-no a ver coisas como se ele fosse assombrado por elas, isso fica claro quando aparece nos escombros da casa a imagem de um enorme gato com uma corda no pescoço e quando a mancha branca nos pelos do segundo gato toma a forma de uma forca.

 O sentimento do narrador para com o gato remete ao mito do duplo em que ele não consegue aceitar suas próprias mudanças espelhando no gato sua aversão. Dessa forma, a maneira que o conto é contado em uma gradação de fatos que levam o personagem a se transformar na personificação do mal nos mostra que as ações por mais que elas pareçam estar impunes o que é plantado em algum momento é colhido.

FOLKLORE: O Escapismo de Lagos, Isolamento e Narrativas


(Photoshoot do Álbum por Beth Garrabrant)

            Folklore é o oitavo álbum de estúdio lançado por Taylor Swift, cantora americana que já ganhou anteriormente dois Album Of The Year no Grammy 's (em 2010 por “Fearless” e 2015 por “1989”). O trabalho fez muito sucesso mundialmente este ano, sendo a maior estreia de um álbum feminino de todos os tempos no Spotify, maior plataforma musical do mundo, e levando a cantora a concorrer ao seu terceiro álbum do ano. Juntamente com ela, houve produção de dois de seus amigos, Jack Antonoff e Aaron Dessner. Diferente de seus trabalhos anteriores que focavam em sua vida pessoal e experiências amorosas, Swift decidiu criar narrativas sobre o que ouvia de pessoas da sua família, de casas onde já morou ou criar personagens para contar suas histórias e criar seu próprio folclore. Segundo ela, as músicas nasceram de uma tentativa escapista durante a quarentena causada pelo Covid-19, deixando sua criatividade solta e se amalgamar com fantasias, histórias e memórias.

            Para um trabalho que foi lançado em um dos 24 de julho mais conturbados de todos os tempos, em pleno isolamento social e pessoas se encontrando apenas virtualmente, começar com a frase “Eu estou bem, estou tentando coisas novas / Estive dizendo sim em vez de não” nos deixa mais próximos da história ali contada. A narrativa mais interessante fica por conta de uma trilogia das músicas Cardigan, August e Betty. A história se inicia quando, em Cardigan, conhecemos Betty, uma mulher que devaneia sobre um acontecimento da adolescência, quando seu namorado da época acaba trocando-a por outra garota chamada Augustine nas férias de verão. A partir da melancolia do sentimento de lembrança, Betty diz “Eu sabia que você / Tentou mudar o final / Peter perdendo Wendy, eu / Eu te conhecia / Indo embora como um pai / Correndo como água, eu / E quando você é jovem, eles deduzem que você não sabe nada”. A história continua e volta ao tempo para que conheçamos a perspectiva de Augustine na faixa “August”. Ali descobrimos que, depois das férias de verão, James volta para Betty e deixa Augustine. O intrigante aqui se torna o eu lírico da personagem nos ganhar por sentirmos que ela estava apaixonada pelo rapaz e acreditava que ele deixaria a namorada para ficar com ela. Trechos como “Mas eu consigo nos ver perdidos nas memórias / Agosto foi embora em um instante de tempo / Porque isso nunca foi meu / E eu consigo nos ver enrolados em lençóis / Agosto foi embora como um gole de uma garrafa de vinho / Porque você nunca foi meu” demonstram isso. Para finalizar o ciclo, temos a perspectiva de James, na qual conseguimos perceber uma crítica da cantora. Enquanto as duas faixas anteriores são escritas e compostas por melodias bem trabalhadas e letras elaboradas e com referências, Betty é simplista e repetitiva, fazendo pensar no rapaz como um homem qualquer que tenhamos visto tentando se desculpar por ter traído. A ligação final do triângulo amoroso fica pelo refrão “Mas se eu aparecesse na sua festa / Você me receberia? / Você iria me querer? /Você me diria para ir para o inferno? / Ou me levaria ao jardim? / No jardim você confiaria em mim / Se eu te dissesse que foi apenas uma coisa de verão? / Tenho apenas dezessete anos, não sei de nada / Mas eu sei que sinto sua falta.”.



            Todas as dezesseis músicas que foram escolhidas para o trabalho possuem narrativas mirabolantes e que deixam o ouvinte atento até o último segundo. Epiphany, uma das minhas favoritas, faz um paralelo entre os médicos nos hospitais durante a pandemia e os soldados da Segunda Guerra Mundial. The Last Great American Dynasty tenta relatar o machismo contra uma cantora dos anos 50 chamada Rebekah Harkness, conhecida por sua vida de luxo e festas extravagantes. Seven tem uma bela história de amizade onde uma criança descobre que seu vizinho sofre homofobia de seu pai e chama-o para fugir para Indiana e viver como piratas. O conjunto torna-se coeso e leve, mesmo tratando de histórias cheias de emoção, ao explorar o gênero Folk deixando tudo mais leve e calmo.

            O álbum me remeteu aos “Lake Poets”. Era, basicamente, poetas do romantismo, como William Wordsworth e Beatrix Potter, que viviam em um “Distrito dos lagos”, na Inglaterra da metade do século XIX. Esses escritores escolheram morar à margem desses lagos, em uma espécie de vila, para que sua criatividade aflorasse e conseguissem escapar da sociedade para seguir a “Escola” que Wordsworth estava criando. Sendo suas principais características a linguagem e o eu lírico simples, escrita com exaltação da natureza e, a mais importante, voltar-se para dentro de sua mente, produzindo uma visão semi autobiográfica da natureza e da imaginação. O álbum faz diversas referências a esse modo de escrita, principalmente em “The Lakes”, que possui todos esses adereços, além de citar diretamente o movimento e a beleza dos picos de Windermere.

(Taylor Swift durante gravação de seu álbum - 2020)

            Por fim, Taylor Swift cria um trabalho que possui semelhanças com narrativas literárias, trazendo até referências de histórias clássicas e autores. Durante o isolamento social, todos nós buscamos alguma forma de fugir da realidade pelo menos uma vez ao dia, seja uma série, livro ou filme. Dentro de cada uma dessas músicas encontramos pequenos contos em forma de músicas, mundos e perspectivas que, muitas vezes, não tínhamos parado para observar. Essa obra pode ser indicada para qualquer um que queira encontrar, como a Taylor ou os poetas que escreviam à beira dos lagos, um refúgio inspirador esperando que tenhamos verões melhores novamente.





Álbum 25 da cantora Adele.

   

(capa do álbum)

    Em seu terceiro álbum, titulado como 25, a cantora Adele apresenta um trabalho distinto de seus antecessores, 19 e 21, apesar de manter a tradição de nomeá-los fazendo referência à idade da compositora. Sem abrir mão da ótima qualidade já conhecida por seus fãs, dessa vez a artista abre mão da temática desilusões amorosas, para mostrar uma análise da passagem do tempo, uma reflexão do passado, futuro, de quem ela se tornou a partir de vivências particulares, dentre elas, a maternidade.




(carta publicada pela artista explicando parte do processo criativo do CD).

    Trata-se de um disco composto por 11 faixas, com forte influência dos gêneros Jazz, Blues e predominância do Pop. A canção escolhida para divulgação inicial da obra foi ‘Hello’ (Olá). Adele define essa como um acerto de contas com pessoas que, de alguma forma, já a machucaram, inclusive ela mesma. Já a segunda música escolhida foi ‘When we were young’ (Quando éramos jovens), essa, por sua vez, trabalha bem a reflexão temporal, uma vez que é cantada a partir da perspectiva da cantora já com 50 anos de idade, relembrando todas as pessoas que passaram pela vida dela e seguiram caminhos diferentes, ou ainda são próximas, mas como todos mudam ao longo do tempo.

Clipe da música 'Hello'.
Clipe da música 'When we were young'.

    A batizada por ‘Sweetest devotion’ (A mais doce das devoções) não possui grande papel na divulgação comercial, mas retrata com esplendor a experiência maternal que a autora vivenciou durante a produção de seu trabalho. Escolhida para encerrar o CD de forma grandiosa, essa melodia traz na letra o sentimento que a maternidade é algo muito maior, que ela encontrou um propósito, uma razão para a jornada de vida dela com o nascimento do filho.

Canção 'Sweetest devotion'.

    Por isso, o 25 foi aclamado pela inovação das letras e apresentação de novos aspectos não explorados, anteriormente, por Adele. Tornando, assim, um dos álbuns mais bem sucedidos do milênio, tanto em impacto midiático, quanto em vendas. Portanto, vale a pena tirar uma hora do dia e se emocionar com essas composições.

Elsa Y Fred (2005)

 



Poster do filme Elsa&Fred (2005)

      Uma história bem simples sobre duas pessoas que se apaixonam, poderia ser classificado como uma comédia romântica, mas bem mais próximo da realidade, e protagonizado por pessoas na terceira idade: a bem humorada Elsa, que procura aproveitar ao máximo a vida, mesmo que para isso, às vezes, ela não seja politicamente correta. E Fred, um recente viúvo, pacato, triste e sistematicamente adequado a regras. Um dia, eles se conhecem, devido a um acidente causado por Elsa no carro da filha de Fred, a estressada Cuca. A partir daí, nasce uma amizade que se transforma em paixão. E é esta a essência do filme, um amor maduro, mas sem pressas e carregado de sonhos.

      Este filme expande os horizontes do amor, revelando que este sentimento não é exclusividade da juventude. Ele dá verdadeiro sentindo ao termo "melhor idade", já não é necessário provar mais nada um ao outro, apenas viver e ser feliz. Fred aos poucos se embriagando da vivacidade que exala de Elsa e ela revelando aos poucos suas máscaras e compartilhando seus sonhos. Com sequências divertidas e momentos ternos, os protagonistas tem como inspiração o filme A Doce Vida, de Federico Fellini (1960), por ser o grande sonho de Elsa: conhecer a Fontana di Trevi na Itália. E Fred faz de tudo para realizar o sonho de Elsa. Um filme que traz uma discussão relevante na sociedade atual, sobre o amor e liberdade na velhice.

            Elsa y Fred é um filme argentino de 2005, direção de Marcos Carnevale, um diretor e roteirista argentino, que ganhou vários prêmios por seus trabalhos na produção de séries da TV argentina. Embora não seja um filme muito conhecido no Brasil, tem boa avaliação nos sites especializados. Existe uma versão norte americana para este filme, com o mesmo nome, protagonizado pelos veteranos Shirley Maclaine e Christopher Plummer, de 2014, Mas, Elsa e Fred vivido pela argentina China Zorrilla e o espanhol Manuel Alexandre são de um carisma muito mais envolvente. Além de sair da rotina estadunidense de filmes, Elsa y Fred (2005) quando termina nos traz o desejo de ir em busca de novos sonhos.

  


domingo, 10 de janeiro de 2021

RESENHA:A DANÇA DA MORTE

 

Foto retirada da atual edição disponível no Brasil de A dança da morte.


Após um erro em uma base de teste biológico nos Estados Unidos, uma super gripe se espalha ao redor do mundo, matando mais de 99% da população mundial dentro de poucas semanas.Os que sobreviveram, por algum motivo desconhecido, são imunes ao vírus e tentam descobrir o que fazer nesse novo mundo.Dois líderes então se levantam e,por meio de aparição em sonhos,chamam os remanescentes para construir uma nova sociedade.A primeira sociedade é liderada pela benevolente mulher de 108 anos de idade,Mãe Abagail. A segunda sociedade é liderada pelo cruel Randall Flagg,o homem escuro.


Em A dança da morte,stephen King(1978)cria um épico pós-apocalíptico sobre a queda e a reconstrução da sociedade.Dividido em 3 partes, o livro começa na noite em que o paciente zero contrai o vírus e, sem saber que estava contaminado, da início a uma cadeia de acontecimentos mortais, espalhando o vírus pelos Estados Unidos e depois ao mundo.A partir desse cenário a história segue em um ritmo quase perfeito, apresentando os personagens principais da trama, seus dilemas e a personalidade de cada um, de modo que quando o vírus os atinja, o leitor já esteja familiarizado com eles e se compadeça com situação que está acontecendo.King (1978) traz uma gama de personagens riquíssimos e reais,que aparentemente podem ser vistos como simples pessoas vivendo suas vidas, mas conforme o enredo avança,vão mostrando o melhor e o pior de si.Alguns desses personagens são: Stuart Redman, um viúvo sem grandes pretensões que tem sua vida bagunçada após sua cidade se transformar no epicentro da doença.Frannie Goldsmith,uma universitária que descobre estar grávida e tem que lidar com a questão de não amar o pai do seu filho.Larry Underwood,um cantor que após estourar com seu hit, tem que voltar a viver com sua mãe sem nenhum dinheiro no bolso.Esses e outros personagens são apresentados na história de modo que não haja um único personagem principal,pois a situação e os acontecimentos ocorrem independente de qualquer ligação com os personagens da trama.


A fantasia também está presente em A dança da morte com a figura de Randall Flagg  representando toda mágica do livro.O principal antagonista da história tem a capacidade de mexer com o sobrenatural,e assim ele usa sua mágica para atrair e corromper alguns personagens,os influenciando a  cometer as piores atitudes nesse novo mundo sem lei.


Randal Flagg,Foto retirada da edição americana The stand.


Segundo o próprio autor, a ideia para esse enredo lhe ocorreu quando estava sentado na sala de espera do hospital, ele lia um jornal que falava sobre a poluição causada por alguns materiais químicos no ar, e pensou no perigo desses materiais.Em seguida, perguntou para o doutor o que havia de mais perigoso para a extinção da raça humana. O médico respondeu que o vírus é provavelmente a arma mais perigosa por conta da sua capacidade de modificação. Assim, em 1978 Stephen King escreveu a sua história e como uma homenagem que sempre quis fazer, busca criar o mesmo tom épico de O Senhor dos Anéis (um dos livros favoritos de king)em solo americano,sendo o Flagg uma espécie de novo Sauron.


O livro voltou a ganhar destaque durante essa pandemia (texto escrito durante a pandemia ,em 2020 ).O livro tem muitas coincidências com a situação atual,não somente por ser uma gripe, mas também por conta da maneira como algumas autoridades da obra se posicionam à respeito do vírus. Assim sendo, mesmo que o livro tenha sido escrito e publicado pela primeira vez em 1978,ler em 2020 enriqueceu muito a minha experiência como leitor.


Talvez para o leitor atual, que está em constante contato com outras obras de temática pós-apocalípticas,ler uma obra tão extensa como essa pode parecer um desafio, entretanto seria bom entrar em contato com o livro que influenciou tantas outras obras que vieram depois. Para um leitor de primeira viagem de King(1978), essa pode não ser a melhor leitura para começar com o autor, seu ritmo considerado por muitos como lento e o grande número de personagens podem ser um empecilho para aquele que não está acostumado com escrita a de King(1978).Apesar disso,com um pouco de paciência, é possível perceber logo na primeira parte do livro a habilidade do autor em envolver o leitor no meio de tanta confusão.


Dessa forma, caso você tenha se interessado, esse é um livro altamente recomendável.A dança da morte tem de tudo,aventura,romance, terror, suspense,drama,comédia,fantasia,épico. É um livro sobre travessias e transformações,sobre união para construir algo para o bem ou para o mal,e,principalmente,o livro é sobre a constante batalha entre o bem e o mal.Sua jornada será tão extensa quanto a dos personagens, mas no final,a história e os personagens permanecerão com você, mesmo após o fechar da última página.


Bônus: Recentemente "A dança da morte" foi adaptada para uma série de TV,disponível nos serviços de streams do Starzplay ou pelo serviços de canais presente no Amazon prime vídeo.



Link para o trailer: 

https://youtu.be/idHWCsTD3nU


Autor: Carlos Levy Limas de Sousa,em 10 de janeiro de 2021


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

RESENHA CRÍTICA: Incógnito, o livro que impulsiona a libertação do pássaro azul em nosso peito.

 

LAIR, Larissa; Incógnito; 1. ed. Rio de Janeiro: produção independente, 2020. P. 1-576.

         Os artigos indefinidos jamais serão vistos da mesma forma após a leitura do livro Incógnito, lançado em 2020 pela escritora e comunicóloga Larissa Lair (2020), que brinca com o tema da indefinição em toda sua obra e de diferentes maneiras, seja com os nomes dos capítulos, ou até mesmo com alguns acontecimentos presentes na história. No início da leitura, todos os leitores são incógnitos.

Larissa Lair (2020), formada em jornalismo, possui uma escrita leve e clara, com riqueza de detalhamento que atribui prazer ao leitor e o transporta com facilidade para o ambiente e para a ação narrada, proporcionando a sensação de estar no lugar da personagem. Incógnito é uma fanfic do grupo sul-coreano BTS e agora se tornou um livro, sendo o primeiro publicado da autora, feito de maneira independente. 

Essa primeira edição é focada, a princípio, no público que acompanhava Incógnito nas plataformas digitais de histórias e de fanfics, por esse motivo é considerada um fan made (feito por fã) e não foi necessário alterar os nomes das personagens. No entanto, a autora possui um grande interesse em adaptar a obra para o Brasil e publicá-la também. 

Incógnito é um livro LGBTQ+ colegial que aborda muitos impasses da juventude, sobretudo bullying, homofobia, busca de identidade, relação entre os pais e o adolescente, anorexia, entre outros. Mesmo não tratando de todos esses temas de maneira aprofundada, Incógnito ainda é um livro no qual muitos jovens identificam seus conflitos na adolescência e se sentem acolhidos por saberem que não são os únicos que possuem medos e dúvidas ou que sofrem de algum problema, seja ele externo ou interno. Saber que não se está sozinho em determinada situação é reconfortante, e Incógnito é um livro que, nesse quesito, te abraça.

O título da obra remete a uma das personagens principais: Kim Taehyung, um adolescente que perde seu diário, o qual usava a palavra ‘’incógnito’’ para se autodenominar, buscando manter sua identidade anônima. Mas Jeon Jeongguk, o garoto que encontrou este diário, investiga com minuciosidade todos os detalhes presentes nas anotações pessoais do Incógnito para descobrir quem é a pessoa por trás das narrações peculiares e fascinantes presentes no caderno. Jeongguk, sabendo de todos os problemas que o dono do diário enfrentava — como bullying e homofobia —, sentiu uma grande vontade de se tornar amigo dele.

Assim, há todo um planejamento vindo do garoto para arranjar uma maneira de se aproximar de Taehyung e enfim devolver o diário para ele. O adolescente tem êxito em se aproximar do Incógnito, mas não consegue entregar o caderno ao dono, então o mantém guardado. Cada vez mais próximos, sentimentos novos vão aflorando dentro de Jeongguk e ele se vê cercado de dúvidas, medos e espinhos, se perguntando a todo momento se estava mesmo sentindo atração por um garoto.

Lair (2020) trabalha em sua obra o poema O pássaro azul, de Charles Bukowski, que trata da censura de quem a pessoa realmente é. O eu-lírico do poema diz que há um pássaro azul dentro de si, mas é duro demais com ele e não o deixa sair, ou quando o deixa, é à noite, quando ninguém está vendo, e em seguida ele volta para seu devido lugar: em seu peito. Ambas as personagens principais possuem um pássaro azul guardado dentro de seu peito e os leitores, conforme a leitura, vão percebendo qual pássaro azul aprisionam também.

Da mesma forma como há a abordagem de indefinição em Incógnito, existem também muitas descobertas: sobre orientação sexual, sobre identidade e, claro, sobre com quem o diário estava. Apesar de toda reviravolta decorrente desses descobrimentos, eles apenas servem para definir e concretizar os sentimentos e as concepções das personagens.

Um capítulo muito marcante para a história inteira é o Um baile, pois Taehyung, depois de enfim conquistar sua voz e de ter construído uma confiança dentro de si, encara de frente o valentão que costumava praticar bullying consigo, enfrentando todos os seus medos com coragem, determinando, então, sua verdadeira personalidade. Além deste grande fator, no capítulo há a liberação do pássaro azul dos dois garotos quando, no meio de todos os alunos do baile de formatura, eles decidem se beijar, expondo para todo o colégio que estavam juntos.

Assim como as duas personagens principais, no final da leitura do livro os leitores já tiveram uma reflexão significativa sobre sua própria identidade e descobriram ou reafirmaram quem eles são de fato, enfim liberando o pássaro azul — que significa a própria aceitação individual — guardado dentro de cada um. Por fim, os leitores deixam de ser incógnitos.

           Como se trata de uma obra narrada através da perspectiva de um adolescente, Incógnito tem como público-alvo jovens entre 14 e 17 anos, mas considero um livro para todas as idades devido aos temas importantes abordados ao longo do romance e, claro, ao fato de que não tem idade para se ter um pássaro azul guardado em nosso peito. Portanto, afirmo ser um livro que trará muitos ensinamentos ao leitor e o fará descobrir muitas coisas sobre si mesmo, assim como Taehyung e Jeongguk descobriram, juntos.

 

Resenha por: Maria Clara de Paula Reis, graduanda em Letras: português pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

Onde ler Incógnito:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/incognito-vkook--taekook-7043132

https://my.w.tt/jHnIDuAGScb