quarta-feira, 14 de junho de 2017

Resenha crítica do livro Jóquei (2014), de Matilde Campilho



  As raízes de uma poesia nômade

"Com o tempo o jóquei apaixona-se pelo cavalo. No final, é o cavalo que lhe faz companhia. Não é por ele, é pelo cavalo. E isso é um pouco como poesia: não é uma corrida para se ganhar, é uma corrida para se fazer". Assim Matilde Campilho explica o título de Jóquei (2014), seu livro de estreia, embora tenha estreado na poesia muito antes de se entender por poeta. "Não sei quando comecei a escrever ficção, poesia. Foi tudo muito natural", afirma a jovem lisboeta.
À esquerda, as edições portuguesa e brasileira, respectivamente, de Jóquei (2014).
 À direita, o poema "O último poema do último príncipe", que compõe o livro. 
Imagem: Daniela Schwanke.
Jóquei, lançado pela Editora 34, no Brasil, e pela Tinta da China, em Portugal, reúne poemas em verso e prosa, marcados por fragmentos de conversas e por cartas, por letras de música e pela musicalidade própria, pela companhia de grandes referências poéticas, como Whitman e Eliot, e por versos em inglês. Como muito se faz, lança mão da metapoesia, no entanto, na contramão de alguns grandes poetas, Campilho deixa claro que “a poesia não salva o mundo, mas o minuto”, em versos como: “Não vai melhorar / isto é um poema / escute só / não fala de amor / não fala de santos / não fala de Deus”. Dessa forma, Jóquei desmistifica certos valores comumente atribuídos ao fazer poético, que o enxergam como algo elevado que requer rebuscamento e uma pesada bagagem literária, o que logo se vê pela linguagem simples, mas não menos poética de Matilde. E talvez poética porque simples. 
Matilde Campilho, autora de Jóquei (2014). 

          O português híbrido da poeta é, também, marca da linguagem singular de Jóquei, já que o livro foi escrito durante sua temporada de passagem entre Rio de Janeiro e Lisboa, entre os anos de 2010 e 2013. Com um pé na cidade Sul e outro na cidade Norte, Matilde tece sua poesia. Uma poesia que faz casa por onde a nômade poeta pisa, e convida o leitor a uma corrida para se fazer, desbravada por imagens e ritmos íntimos, seja pelo desajeito do cabelo da menina que trabalha com afinco na caixa registradora do supermercado, seja pela solidão da baleia que canta a uma frequência inaudível por outros animais. Assim, Jóquei apresenta-se não apenas como o livro de estreia de uma poeta luso-carioca, mas uma experiência sensorial. Como dito pelo crítico literário Gustavo Rubim, Jóquei é “um vento de pura selvageria”.

Por Vitória Carvalho.
Aluna de Leitura e Produção Textual - Profa.: Margareth;
Faculdade de Letras FL/UFG.

7 comentários:

  1. UAU! Que livro fantástico!!! Sua resenha me deixou muito interessado em lê-lo.

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  2. Uma coisa que eu adorei na sua resenha é quando você coloca o fazer poético em questão, desvinculando-o do rebuscamento e mostrando, através da linguagem poética da autora, a simplicidade que a poesia pode ter.

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