RESENHA: Mel e Girassóis, de Caio Fernando Abreu

"Caio Fernando se sente a vontade para retratar, fiel e emocionadamente, a geração dos que ainda tentam falar das estrelas". Vivien Lando, Jornal do Brasil, RJ.

   Mel e Girassóis, de Caio Fernando Abreu, foi publicado pela editora Mercado Aberto pela primeira vez no ano de 1988 e as edições tanto física, como em PDF são extremamente confortáveis ao leitor. A capa, "Doze girassóis numa jarra" é considerada uma das melhores e mais famosas obras do pintor holandês Vincent van Gogh é uma referencia direta ao titulo do conto em questão; um ramo de girassóis dentro de um vaso em forma de colmeia de abelha, o que remete a ideia do mel. Ademais, a ilustração embeleza ainda mais a capa da obra.

  Caio Fernando Abreu tem uma escrita intimista e bastante pessoal, trata de assuntos contemporâneos utilizando de uma visão dramática, o que transporta o leitor não só para dentro da obra, mas também, para a mente do autor.

  

Apesar de “Mel e Girassóis” se tratar de um livro de contos escrito por Caio, a resenha se voltara especificamente ao conto que nomeia a obra. No texto de Caio, os protagonistas (que não são nomeados, fato que gera uma identificação com o leitor, afinal, os personagens podem ser qualquer pessoa... genial!) "como naquele conto de Cortázar, encontraram-se no sétimo ou oitavo dia de bronzeado. Sétimo ou oitavo porque era mágico e justo encontrarem-se, libra, escorpião, exatamente nesse ponto, quando o eu vê o outro". Tudo tão ao acaso que não fazia sentido marcarem o próximo encontro. O conto promete um começo feliz para os heróis; por isso, lida com clichês, afinal, a felicidade e a realização amorosa só podem ocorrer sob tais condições. Ainda assim, a história se encerra com uma promessa, e o fato de converter o famigerado final feliz em um efêmero amor de veraneio.

  

No romance, clichês são atemporais, "Mel & Girassóis" é intrinsecamente relacionado com o emprego dos sucessivos clichês narrativos; desse modo, não apenas os heróis não apresentam identidade (como em outros contos desse mesmo livro) e preferem acreditar no universo de ilusão hollywoodiana em que foram jogados; também o narrador deixa-se contaminar pelos estereótipos impostos por essa cultura, que substituem a criatividade e diluem o estilo, sendo o traço que particulariza uma obra qualquer.

Ironicamente, o clichê de Caio, é justamente o que torna a obra singular e verossímil, a linguagem leve e sarcástica do narrador o torna um amigo próximo do casal e do leitor, a contar o caso em uma reunião de amigos ou mesa de bar. 29 anos se passaram desde a publicação da obra, fato que passa despercebido ao levar em consideração a intimidade construída com quem lê.  Nas 15 páginas que constituem a historia você ri, chora, reflete…é um conto cheio de emoções que continuam com você mesmo depois que ele termina, e assim, o que parecia efêmero torna-se eterno, pedindo desculpas ao "acaso por chamá-lo necessidade".

 - Julia Moura ( @juliiawn)

Referencias: Carlos Batalha