sexta-feira, 22 de julho de 2016

A poesia poesia da mãe da natureza


Um dia desses, na sala de número 144 do Centro de Formações de Professores (CFP), ouvi algo que me deixou imensamente incomodado. Era uma moça bonita, de olhos claros e cabelos cacheados. Sua boca era carnuda e sua voz era monstruosamente grave. A moça afirmou, verbalmente, que não poderia existir algo que pudesse representar maior sentimento do que um poema. “Não existe poesia mais linda que a poesia escrita”, acrescentou a jovem em conversa casual com a amiga. Era uma sexta-feira e fui para minha cidade natal, Piracanjuba. Como de praxe, fui para o santo vôlei, mas o que eu ouvira não saía da minha mente.

Dormi. Acordei já ao meio-dia do sábado. Poderia ser uma tarde como qualquer outra, mas minha mente, sapiosexual, naquela tarde em que a incerteza e a insegurança permeavam meu ser, não estava preparada para tamanha miscelânea de dubiedade. Uma dúvida dolorosa me martirizava: será que realmente não poderia existir algo mais poético que qualquer poema? Ora, a priori pensara que não – alienei meu pensamento à declaração da jovem da CFP. Todavia, nada mais eficaz que situações para que refutemos nossos pensamentos obsoletos.

 Com o passar das horas, fui para o parque municipal. Uma tentativa em vão de descansar minha mente. O tempo foi passando e a tardezinha chegando. Sentia-me na obrigação de me responder sobre aquela pergunta que fizera a mim mesmo: “ não pode existir algo mais poético que um poema?”. O tempo continuou passando e, com os olhos fitados ao vácuo, comecei a pensar e a tentar compreender a beleza que a mãe natureza nos proporciona todos os dias. Continuei pensando. Pensei mais e mais um pouco. Comecei a obter algumas respostas sobre vários questionamentos retóricos que a mim mesmo eu fizera.

Continuei apreciando a natureza. No princípio, uma admiração pela beleza expressa em cada sombra, mas depois...  Depois chegou a reposta daquilo que eu tanto me perguntara. Meu corpo o desejava, minhas mãos suavam e eu sequer conseguia compreender o que ele dizia. Em minutos o coração passou a bater mais forte e o brilho nos meus olhos me deixava cego - como um motorista contra um farol alto. Sem rumo, sem direção. Naquele momento eu já não enxergava mais nada. Mas seu toque... Ah, seu toque  vinha sobre minha pele e me guiava naquela viagem apaixonante e envolvente. Meus pensamentos, vertiginosamente, projetavam-nos.

Coisa de adolescente? Não. Ora, que isso?! Isso é coisa de coração exigente que não se entrega a qualquer coisa desprovida de sapiência, mas que se relaxa àquelas situações exacerbadas de cultura e sentimentos. Agora, encontro-me todo dia, revivendo em pensamentos cada momento que juntos passamos em tão poucas horas.  O sol já estava de saída e, nós dois - dois perdidos -procurávamos o caminho para que não nos separássemos. Momentos!

O sol se foi. Comecei a pensar como seria noutro dia. Mas minha maior preocupação era em como digerir todas as informações que ele me trouxera. Como triturar tudo aquilo que absorvi dele? Oxalá! Parecia irreal, mas o crepúsculo me fez perceber que, num fim de tarde, há mais poesia do que em um simples conjunto de rimas.

Hoje sei que o crepúsculo é um momento em que a subjetividade fala mais que qualquer clareza de ideias. Assim, encontro-me, para sempre, aguardando a tarde para vê-lo chegar e juntos fazermos um intercâmbio de expressões que vão além do imaginário; vão além de um conjunto de rimas transcritas num papel. Essa percepção é o que nos faz avançar, no que diz respeito a estágios intelectuais. Não podemos nos prender aos paradigmas de que apenas o apreciado nos traz evolução. Não podemos acreditar que há poesia apenas no papel. Leiamos, portanto, a poesia que a mãe natureza escreve para nós.  O crepúsculo é apenas uma delas.


Lucas Hemetério dos Santos, graduando em Letras/Português na Universidade Federal de Goiás (UFG)

5 comentários:

  1. deve ser por isso que na sala ao lado, no mesmo instante, um menino sapiossexual (!) dizia: "como vendem esses livros do Crepúsculo! ele deve estar rico numa hora dessas!"

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  2. Adorei. Eu como amante de poemas e escritora deles tenho que concordar poesia nâo é só a escrita. A poesia se encontra em toda as coisas em nossa vida.

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