Um dia desses, na sala de número 144 do Centro
de Formações de Professores (CFP), ouvi algo que me deixou imensamente
incomodado. Era uma moça bonita, de olhos claros e cabelos cacheados. Sua boca
era carnuda e sua voz era monstruosamente grave. A moça afirmou, verbalmente,
que não poderia existir algo que pudesse representar maior sentimento do que um
poema. “Não existe poesia mais linda que a poesia escrita”, acrescentou a jovem
em conversa casual com a amiga. Era uma sexta-feira e fui para minha cidade
natal, Piracanjuba. Como de praxe, fui para o santo vôlei, mas o que eu ouvira
não saía da minha mente.
Dormi. Acordei já ao meio-dia do sábado.
Poderia ser uma tarde como qualquer outra, mas minha mente, sapiosexual,
naquela tarde em que a incerteza e a insegurança permeavam meu ser, não estava
preparada para tamanha miscelânea de dubiedade. Uma dúvida dolorosa me
martirizava: será que realmente não poderia existir algo mais poético que
qualquer poema? Ora, a priori pensara que não – alienei meu pensamento à
declaração da jovem da CFP. Todavia, nada mais eficaz que situações para que
refutemos nossos pensamentos obsoletos.
Com o
passar das horas, fui para o parque municipal. Uma tentativa em vão de
descansar minha mente. O tempo foi passando e a tardezinha chegando. Sentia-me
na obrigação de me responder sobre aquela pergunta que fizera a mim mesmo: “
não pode existir algo mais poético que um poema?”. O tempo continuou passando
e, com os olhos fitados ao vácuo, comecei a pensar e a tentar compreender a
beleza que a mãe natureza nos proporciona todos os dias. Continuei pensando.
Pensei mais e mais um pouco. Comecei a obter algumas respostas sobre vários
questionamentos retóricos que a mim mesmo eu fizera.
Continuei apreciando a natureza. No princípio,
uma admiração pela beleza expressa em cada sombra, mas depois... Depois chegou a reposta daquilo que eu tanto
me perguntara. Meu corpo o desejava, minhas mãos suavam e eu sequer conseguia
compreender o que ele dizia. Em minutos o coração
passou a bater mais forte e o brilho nos meus olhos me deixava cego - como um
motorista contra um farol alto. Sem rumo, sem direção. Naquele momento eu já
não enxergava mais nada. Mas seu toque... Ah, seu toque vinha sobre minha pele e me guiava naquela viagem
apaixonante e envolvente. Meus pensamentos, vertiginosamente, projetavam-nos.
Coisa de
adolescente? Não. Ora, que isso?! Isso é coisa de coração exigente que não se
entrega a qualquer coisa desprovida de sapiência, mas que se relaxa àquelas
situações exacerbadas de cultura e sentimentos. Agora, encontro-me todo dia,
revivendo em pensamentos cada momento que juntos passamos em tão poucas horas. O
sol já estava de saída e, nós dois - dois perdidos -procurávamos o caminho para
que não nos separássemos. Momentos!
O sol se
foi. Comecei a pensar como seria noutro dia. Mas minha maior preocupação era em
como digerir todas as informações que ele me trouxera. Como triturar tudo
aquilo que absorvi dele? Oxalá! Parecia irreal, mas o crepúsculo me fez
perceber que, num fim de tarde, há mais poesia do que em um simples conjunto de
rimas.
Hoje sei
que o crepúsculo é um momento em que a subjetividade fala mais que qualquer
clareza de ideias. Assim, encontro-me, para sempre, aguardando a tarde para
vê-lo chegar e juntos fazermos um intercâmbio de expressões que vão além do
imaginário; vão além de um conjunto de rimas transcritas num papel. Essa
percepção é o que nos faz avançar, no que diz respeito a estágios intelectuais.
Não podemos nos prender aos paradigmas de que apenas o apreciado nos traz
evolução. Não podemos acreditar que há poesia apenas no papel. Leiamos,
portanto, a poesia que a mãe natureza escreve para nós. O crepúsculo é apenas uma delas.
Lucas Hemetério dos Santos, graduando em Letras/Português na Universidade Federal de Goiás (UFG)
Que crônica!!! Parabéns, amiga!
ResponderExcluirUau!
ResponderExcluirArrasou!
Parabéns!
Uau!
ResponderExcluirArrasou!
Parabéns!
deve ser por isso que na sala ao lado, no mesmo instante, um menino sapiossexual (!) dizia: "como vendem esses livros do Crepúsculo! ele deve estar rico numa hora dessas!"
ResponderExcluirAdorei. Eu como amante de poemas e escritora deles tenho que concordar poesia nâo é só a escrita. A poesia se encontra em toda as coisas em nossa vida.
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