A trama de Stephen Chbosky, autor e diretor americano, traz
ao leitor o que é aparentemente “mais um” drama adolescente, cheio de clichês e
acontecimentos previsíveis. “As Vantagens de Ser Invisível”, no entanto, supera
de maneira majestosa todas as expectativas criadas em cima de seu enredo quando
se tem conhecimento apenas da sinopse deste. Publicado no Brasil pela Editora
Rocco, o livro, de 223 páginas, serviu de inspiração para um filme dirigido
pelo próprio autor.
Capa do livro e a capa do filme “As Vantagens
de Ser Invisível”, respectivamente.
Nos anos 90, durante a fase de transição do ensino
fundamental para o médio, Charlie, um adolescente aspirante a escritor,
deposita todos os seus anseios em cartas enviadas anonimamente à uma pessoa a
quem ele se refere como “querido amigo”. Sendo assim, toda a obra é contada por
meio das cartas do garoto. Ou seja, sob a perspectiva deste.
Nas primeiras páginas já é perceptível que Charlie lida com
grandes traumas de seu passado – como a morte do melhor amigo – e possui
pensamentos conturbados em relação aos seus sentimentos e ao início de uma nova
etapa de sua vida, para qual o garoto não está nenhum pouco animado: o início
do ensino médio. É interessante observar
aqui a "ponte" estabelecida entre o personagem e os leitores –
considerando uma faixa etária média de adolescentes. Nesta idade, os anseios da
grande maioria dos jovens concentram-se na transição entre ensino fundamental e
ensino médio. Portanto, essa característica do personagem reflete uma realidade
vivida por quem lê a obra.
Percebe-se ao longo do livro que o garoto é cheio de
peculiaridades, como o curioso fato de o mesmo estar sempre pelos cantos,
raramente notado, analisando de maneira antropológica – mesmo que contra sua
vontade, às vezes – o comportamento e os acontecimentos da vida das pessoas que
o cercam, tais como sua família e outros alunos da escola. O termo que
representa pessoas com essas características de Charlie, na obra, é definido
como "wallflower".
Alguns dias após o início das aulas, Charlie conhece duas
pessoas que serão, a partir desse momento, “divisores de águas” em sua vida: a
garota, Sam, e o meio-irmão, Patrick. O vínculo de amizade estabelecido com
estes proporcionam a Charlie momentos em que o mesmo se sente fora de sua zona
de conforto, vivenciando experiências – como o primeiro beijo, primeiro baile
de escola e, finalmente, a inserção em um grupo de amigos – que o faz enxergar
nos companheiros uma válvula de escape para todas as suas angústias, as quais
ele passa a deixar de lado durante algum tempo.
Charlie e os seus novos amigos, no
filme “As Vantagens de Ser Invisível”.
O ano letivo corre com diversos acontecimentos, tanto
felizes, quanto desconfortáveis, que reafirmam a forte ligação entre o garoto e
os amigos. É interessante observar, ao longo do enredo, a maneira com que a
personalidade de Charlie é exposta ao leitor, uma vez que no início da obra o
protagonista mostrava-se um indivíduo ausente desta. Conforme suas inseguranças
são deixadas de lado, a personalidade é exibida, provando que esta estava
escondida em meio aos fantasmas de seu passado durante todo o tempo.
Cena marcante, representada no filme
“As Vantagens de Ser Invisível”, na qual Charlie vivencia uma de suas
experiências mais profundas com os amigos, momento em que ele diz sentir-se
“infinito”.
Analisando a narrativa com que a obra é contada, entende-se
que o motivo pelo qual o livro seja narrado através das cartas é o de que o
suposto “amigo” e destinatário de Charlie seja o próprio leitor. A experiência,
sob essa perspectiva, torna a leitura ainda mais fascinante, uma vez que é
feita uma inserção e um diálogo direto entre o personagem e cada indivíduo que
lê suas palavras.
“As Vantagens de Ser Invisível” é uma obra repleta de
personagens carregados com experiências profundas, descritos com maestria por
Chbosky, que não deixa perder a leveza proporcionada por suas palavras, por
mais intenso que seja o contexto, em momento algum. Uma leitura emocionante,
que deixa o leitor intrigado e apaixonado por uma trama aparentemente simples,
mas que possui um imenso teor emocional e antropológico.
- As imagens exibidas ao longo da resenha foram retiradas da internet. A finalidade destas foi ilustrar alguns momentos do enredo por meio das imagens do filme “As Vantagens de Ser Invisível”.
Maravilhosa resenha, estou lendo o livro e captou bem o que já pude perceber, e me deixou com um gostinho de quero mais! "Eu me sinto infinito".
ResponderExcluirÓtima resenha. O filme é um amorzinho, fiquei com vontade de ler o livro também.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom Gyo, eu vi o filme duas vezes e não entendi o que o filme queria mostrar, mas depois e lê sua resenha eu vi o filme com outros olhos, e me despertou a curiosidade de ler o livro para tudo ficar mais completo para mim. Parabéns pela ótima resenha.
ResponderExcluirUma história emocionante que me fez ficar presa no livro por um bom tempo. Muito bom ler sua resenha e relembrar esta história.
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