sexta-feira, 22 de julho de 2016

Entrelinhas

Uma tarde normal, entrei no elevador. O único de um prédio de quinze andares com quatro apartamentos por andar. Mais uma vez, a mesma reclamação... “Esse elevador é realmente muito lento. Vamos sofrer até que a reforma do outro acabe.” Saí, o dia não tinha acabado, e quando, por fim, voltei, a reclamação de novo. “Até quando vamos ter que lidar com a lerdeza desse elevador? São dez segundos para parar no andar, mais cinco para abrir a porta...”. Então, refleti. Talvez o mundo esteja corrido demais para abrir os olhos e enxergar os que estão em volta. Talvez o mundo esteja mesmo tão monótono que esperar segundos a mais no elevador com alguém seja assim tão incômodo. Talvez enxergar o próximo seja mesmo tão difícil. Parei pra pensar, e, sabe, esse cotidiano é meio confuso. Segundos voam no trabalho, mas estar no elevador por mais tempo parece eternidade. Notei que se tentasse estabelecer algum tipo de comunicação com alguém que estivesse ali, tudo ficaria mais fácil. Talvez um “hoje o dia está quente, não?”, faria com que os segundos passassem mais rápido e não fosse tão complicado esperar. Talvez estar mais atento a quem está ali ao lado, poderia resultar numa boa conversa, futura amizade. Mas o mundo realmente cobra muito, certo? Tempo é dinheiro e segundos custam caro... Até quando? Ver sempre um lado bom no dia a dia é dádiva. O elevador talvez não seja tão vilão assim. Talvez seja uma forma de fazer reviver o conceito de comunidade naquele prédio. Talvez o elevador lento tenha um propósito. Talvez, só talvez.

Laura Pentian, graduanda em Letras-Português pela Universidade Federal de Goiás.


2 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.