Sabe
com quem tá falando?
Quinta-feira
à noite, esperava
na fila do supermercado.
A
noite
estava
quente
e parada.
A mulher do caixa passava
os produtos calmamente. Muito calmamente... Me
distraía com
milhares de coisas. Meus pensamentos passeavam
pelo ia
fazer amanhã, pelo estranho e infeliz anúncio de “Amostra grátis
de papel higiênico” e a possível decapitação das irritantes que
não param de correr e
gritar. Nossa como estava
quente! O suor deslizava
sobre minha pele como se tivesse preguiça e não via
a hora de sair de
lá.
Na
minha frente, havia
um casal com uma felicidade insuportável de começo de namoro, um
homem de cabelos grisalhos, calmo e de boa postura. Uma mãe, um
tanto cansada, com seus filhos. Eu
só conseguia pensar se ia
demorar muito tempo. Afinal
tinha que
chegar em casa e escrever a tal da crônica. No entanto, a caixa
passava
os produtos com uma lentidão análoga das lesmas. Cada segundo era
eterno. Tentava
pensar em qualquer assunto para escrever. Nada surgia. Nenhuma ideia.
Enfim,
o casal feliz passou tudo que tinha para passar. Era vez do senhor de
cabelos grisalhos. Contudo, uma jovem de uns vinte e poucos anos
furou a fila e disse com uma feição terna que seria rapidinho.
“Moça,
estou esperando há
muito tempo
e
você entra na frente? Não pode, não!”, disse o homem de modo
tranquilo, mas reagindo a falta de respeito.
“Eu
sei, senhor! É que são poucos produtos. Estou com pressa!”, disse
a moça de vinte e poucos anos mostrando a sacola.
“Isso
não é só injusto comigo, mas com todos que entraram e esperam na
fila.”, disse o senhor com convicção. Nessa hora a mãe de dois
filhos assentia com a cabeça para confirmar e eu até então perdido
nos meus pensamentos comecei a prestar atenção nessa
situação insólita.
“Tinha
que ser um velho chato desses. Eu já disse que são poucas coisas.”,
disse a moça alterando o tom de voz.
“Olha
aqui, moça! Você quer passar? Entre na fila e espere como todo
mundo”, disse o senhor.
“Tá
tão velho que nem me escuta! São poucas coisas! O
que
custa?”, reforçou a moça quase
gritando.
“Você
é muito mal-educada, devia ter o mínimo de respeito por essas
regras básicas”, disse
o senhor um pouco mais nervoso.
“Querido,
você sabe com quem tá falando?”, disse a moça já bastante
nervosa.
“Não!”,
disse o homem.
“O
meu pai é sujeito muito importante então coloque-se no seu lugar,
tá bom?”, disse
a moça petulantemente.
“Ah
é?”,
perguntou
o homem.
“É
sim.”, confirmou a moça.
“Que
bom! Eu
sou delegado e você está presa!”, arrematou o homem.
A
mulher ficou pasma e pálida e sem qualquer tipo de reação enquanto
o delegado retirava as algemas de seu bolso. Em uma tentativa
desesperada de obter perdão, ela
dizia que não era sempre assim e que poderiam resolver isso de outra
forma. O homem de cabelos grisalhos manteve sua postura resoluta
e conduziu a moça para saída.
Eu
não conseguia entender muito bem o que estava acontecendo, mas ria
por dentro. Jamais
pensei que alguém pudesse ser preso por furar fila. Pensava também,
qual
a justificativa da prisão.
Roubo de lugar da fila? Muito absurdo. Maus tratos a pessoas de
idade? Teriam que prender muita gente. Desacato a autoridade? Parece
mais plausível.
Depois
da saída do delegado. Trocaram a mulher que atendia o caixa.
Acredita? Essa era muito mais rápida. Passou os produtos da mãe
rapidamente. E enfim os meus. Voltei
para o
carro
e pensei:
“Quem
sabe? Talvez
dê
uma boa crônica.”
Estudante:
Mateus Soares Dias
Letras:
Português/ licenciatura - UFG
Genial cara!!
ResponderExcluirGostei muito.
Bem bolada!!
Parabéns!!