sexta-feira, 15 de julho de 2016

O Salto: uma “música pensante”



O Rappa, uma banda brasileira formada em 1993 no Rio de Janeiro. É conhecida por suas letras de forte impacto social, carregadas pela mistura de sons com influências de rock, reggae, rap, samba e MPB, uma sonoridade ímpar. Não obteve muito sucesso com seu álbum de estreia, mas alcançou fama nacional com o segundo disco Rappa Mundi, lançado em 1996. O Rappa já vendeu mais de cinco milhões de cópias dos seus trabalhos e mesmo com a perda de Marcelo Yuka – letrista e fundador do grupo – não se deixaram abalar. As músicas, grande maioria com um cunho social possuem fortes críticas ao sistema democrático brasileiro e expõem, por vezes de modo subjetivo, problemas enfrentados pela sociedade, principalmente, as classes sociais menos favorecidas.
Integrantes da banda O Rappa.
Outra forte característica musical da banda são os instrumentos “inusitados” utilizados por eles, em setembro de 2008 O Rappa deu uma entrevista para o Blog Música do Brasil onde falaram sobre tais instrumentos, são eles: marimbas, bacias, garrafas, latas, tamancos, taças, e até a “marmita” um instrumento inventado por Lobato – instrumentista da banda – o instrumento assim é chamado pois é nada mais que uma lata com arroz e feijão. O Silêncio Q Precede o Esporro, quinto álbum do grupo, lançado em 13 de novembro de 2003, não diferente dos demais, traz músicas com um forte teor crítico-social apontado pela maioria das músicas, dentre essas O Salto. A música faz utilização instrumental de cordas e cellos diferenciando a canção e enriquecendo sua sonoridade, umas das características da banda. De uma maneira subjetiva, a letra faz referência ao governo Collor, um governo que ao tomar posse anunciou um pacote de modernização administrativa e vitalização da economia, porém não foi bem sucedido, causando desemprego e insatisfação popular e o pior de tudo, a surpresa de trabalhadores e empresários com o confisco em suas contas bancárias. Após isso, Collor lançou outro plano e tentou outras formas de “correr atrás” do prejuízo, mas, novamente, não obteve êxito e só fez com que a população ficasse ainda mais revoltada e descontente. Além de tudo isso, Collor era alvo de denúncias de corrupção envolvendo famosos políticos brasileiros, e com a revelação de esquemas que envolviam o então presidente nada que já não fosse esperado: a revolta da população, insatisfeita com a crise econômica e social a qual vivia o país. Para um melhor e mais aprofundado entendimento é necessário assistir o videoclipe da música, lançado em 2004, dirigido por Bruno Murtinho e Sérgio Schmid, editado por Pedro Amorim, – todos foram premiados pelo trabalho – nele é contada a história de um zelador, pai solteiro de um recém-nascido, demitido recentemente e a procura de um emprego, sem a perspectiva de que encontraria algum, acaba se entregando à bebida e vai parar nas ruas, junto com a criança.
Cena do videoclipe da música O Salto.
O final é trágico, e estabelece assim uma forte crítica
política, com o clipe é mais fácil compreender a correlação existente entre governo e como é afetada a vida de milhares de brasileiros. O videoclipe ilustra muito bem deixando exposto o caráter social empregado com o desfecho da história que se dá com o personagem do clipe saltando de cima de um prédio (uma explicação ao título da música), cometendo suicídio, com seu filho no colo, fazendo-nos refletir sobre a população da classe social dominada, a dificuldade deles diante de crises econômicas e a fraqueza do homem diante do capitalismo, da mídia, da corrupção que toma o poder, surgindo, além da econômica, a crise social que leva diariamente milhares de crianças, jovens, adultos e idosos a tomarem atitudes desesperadas e insanas como “o salto”.
Por: Milena Oliveira Silva, graduanda em Letras - Português / Universidade Federal de Goiás. 
Entrevista  acessada no dia 01/07/2016, disponível em: http://musicadobrasil.blogs.sapo.pt/139606.html

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