quinta-feira, 7 de julho de 2016

Antes do Pôr-do-sol (Resenha)

Resenha Crítica do filme: “Antes do Pôr-do-sol” (Before Sunset)

Resultado de imagem para before the sunset filme

“Antes do pôr-do-sol” (Before Sunset, 2004) é o segundo de uma série de três filmes que tem o título Antes (“Antes do amanhecer” e “Antes da meia-noite” (Before Sunrise, 1995 e Before the Midnight, 2013). O filme foi dirigido pelo diretor norte-americano Richard Linklater e protagonizado por Ethan Hawke e Julie Delpy. A história se passa nove anos depois do primeiro encontro de Jesse (Hawke) e Celine (Delpy). Não é necessário assistir ao filme anterior para compreender “Antes do pôr-do-sol”. No entanto, antecipando a curiosidade de alguns, farei um breve resumo para então prosseguir com a análise do filme.
Em “Antes do Amanhecer”, Jesse e Celine se conheceram num trem que corta a Europa, começaram a conversar, sorrir e flertar. Ao chegar em Viena, deveriam dizer adeus, porque Jesse tinha um avião para pegar. Entretanto antes de despedir-se, ele pede para que Celine desça e passe a noite ele. Desse modo, sem compromisso, os dois descobrem a capital austríaca, encontram videntes, dançarinas, poetas e o amor. Antes do amanhecer, eles vão até a estação de trem, de onde Celine seguiria viagem, e, sem trocar telefones, endereços, ou sobrenomes, fazem uma última promessa: vão se reencontrar naquela mesma estação em seis meses.
Esse é o ponto de partida para “Antes do pôr-do-sol”. Jesse usou sua experiência ao lado de Celine para escrever um livro. Após passar por diversas cidades europeias em uma turnê promocional de sua obra, ele chega a Paris. Em uma pequena livraria, ele conversa com jornalistas locais e, durante a última pergunta, vê Celine no fundo da loja. Posteriormente, os dois caminham até um café e decidem passear por Paris antes que Jesse pegue o avião. Durante uma longa caminhada, eles passeiam por jardins, ruas estreitas e de barco. Sempre falando sobre sentimentos e pensamentos próprios, o que aconteceu depois de Viena e o que eles esperam da vida.
            Apesar da história ser simples e talvez um pouco comum há quatro fatores que tornam-na singular e inconfundível. A estrutura, o roteiro, as técnicas de filmagem e a atuação dos atores são os principais pontos de destaque e que determinam a excelente qualidade e originalidade. Cada um desses aspectos será abordado na ordem respectiva.
O filme é articulado pelos diálogos entre Jesse e Celine. Essa estrutura atrai e envolve de um modo estranho e avassalador. Tudo parece real. Essa é a principal impressão que se tem quando se assiste ao filme. Não tornando surpreendente o fato de que muitos espectadores acreditaram que a história fosse verdadeira. As emoções e aflições de Celine que nunca consegue se envolver com ninguém, sempre tendo relacionamentos pouco significativos ou a falta de perspectiva de Jesse que mesmo casado, autor “best-seller” (bem-vendido) e com filho pequeno não consegue ser feliz. As situações e emoções nos parecem reais. Imediatamente, estabelecemos relações com nossas vidas, o que sentimos e quando percebemos estamos em submersos no filme. Caminhamos junto com os personagens, concordamos e discordamos deles. Sentimos suas angústias como fossem nossas e sentimos o amor deles como fosse nosso.
No começo, quando os dois se encontram, há uma alegria misturada com estranheza que é demonstrada pela forma como os dois conversam e se entreolham. Depois a conversa prossegue com mais naturalidade e por fim revelam seus sentimentos mais íntimos. Tudo está presente no roteiro de modo sutil e simples. Nada é exagerado como em muitos filmes do gênero, isto é, não existem personagens para ajudar no desenvolvimento dos protagonistas (amigos e amigas) nem cenas de tom melodramático acompanhado por música romântica. Outro fator positivo do roteiro são as falas. Os pensamentos e sentimentos são revelados, por intermédio das falas, sempre com sutileza, naturalidade e profundidade. As pausas, olhares e os gestos completam os diálogos e reforçam a sensação já mencionada.
Além disso, no filme tem uma bela fotografia de Paris, com enquadramentos que ressaltam a beleza da cidade, mas nunca deixam os personagens desprivilegiados. A maioria das cenas são longas e sem cortes. Tornando o trajeto e as conversas entre os dois agradáveis e fáceis de acompanhar. Há também uma grande quantidade de contra planos durante alguns diálogos. Essa técnica estimula a sensação de intimidade com os personagens, já que vemos um através dos olhos do outro.
Por fim, e não menos importante, há a questão da interpretação dos atores. Julie Delpy (Celine) fez um excelente trabalho, interpretando a força, a graça e indecisões de uma mulher que reencontra alguém que marcou sua vida profundamente sua vida, mas está casado. E Ethan Hawke (Jesse) deixou sua marca como um homem insatisfeito com a vida e cínico com relação ao casamento, mas que acredita no amor depois de ver Celine. A competência dos atores de trabalhar com emoções e pensamentos que a maioria de nós tem torna a história como um todo verossímil.
 “Antes do Pôr-do-sol” é um filme belíssimo e que instiga muitos pensamentos sobre a maturidade alcançada com 30 anos e apresenta as emoções e angústias sobre amor, futuro dentre outras coisas. Em cada cena descobrimos um pouco sobre os personagens e sobre nós mesmos. Além disso, coloca-se a questão do reencontro de alguém que marcou sua vida, o que faríamos se o encontrássemos? Recomendo-o para todos públicos. Homens e mulheres. Românticos e não-românticos. Solteiros e comprometidos. E para quem não tem muita paciência para os filmes do Woody Allen.
 Finalizo lembrando o que dizia Jean-Claude Carrière, diretor e roteirista francês. Para ele, os melhores filmes são os que seguem bem os princípios da alquimia. Transformar pedras em ouro. Transformar algo ordinário em algo extraordinário. Nesse filme o cotidiano transmuta-se em arte.

Estudante: Mateus Soares Dias
REFERÊNCIAS:
ARNHEIN, Rudolf. A arte do cinema (arte e comunicação). SILVA, M. C. L. Tradução. Edições 70: Lisboa, 1957.
CAARRIÈRE, J. C. A linguagem secreta do cinema. Saraiva: São Paulo, 2008.
ANTES do amanhecer. Direção: Richard Linklater. [S.l.]:  Castle Rock, 2003. 1 DVD (90 min). Título original: Before the Sunrise.


3 comentários:

  1. Adorei sua resenha *-* Com certeza vou adicionar esse filme a minha lista e ver os outros também, por que não?

    ResponderExcluir
  2. "You can never replace anyone. What is lost is lost. Each relationship, when it ends, really damages me. I never fully recover. That's why I'm very careful with getting involved, because it hurts too much! Even getting laid. I actually don't do that. I will miss on the other person the most mundane things. Like I'm obsessed with little things. Maybe I'm crazy(...) I see in them little details, so specific to each of them, that move me, and that I will always miss... You can never replace anyone, because everyone is made of such beautiful specific details."

    Esse filme é cheio desses diálogos fraquinhos assim...hehe.
    Ótima resenha!

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.